Como o Folha 8 revelou, uma organização da sociedade civil chamada Friends of Angola (FoA), sedeada nos Estados Unidos da América, difundiu uma brincadeira de mau gosto, a que chamou de “sondagem”, a propósito das eleições previstas para Agosto.
Chamar sondagem a uma “coisa” como esta é algo que atenta contra a inteligência das pessoas e em nada prestigia a própria FoA. Além disso, o seu poder de influência pode contribuir para distorcer a verdade política e partidária do país.
A FoA foi criada em 2014 para, supostamente, sensibilizar a comunidade mundial sobre os desafios que Angola enfrenta e apoiar a sociedade civil angolana, de forma a potenciar a essa sociedade para construir um país democrático, pacífico e próspero.
Segundo a própria FoA, a organização vai colaborar com outros parceiros para aumentar a consciência da comunidade internacional sobre os desafios da República de Angola e apoio à sociedade civil angolana (em particular entre os jovens, mulheres e os ex-combatentes), nos Estados Unidos da América e no exterior, providenciando apoio, formação e recursos.
“Os projectos envolvem trabalho e parceria com a direcção nacional, líderes comunitários e religiosos, e aliados da sociedade civil, bem como as organizações sem fins lucrativos”, afirma FoA, dizendo acreditar “que através do envolvimento de jovens podemos contribuir para a promoção de líderes práticos , reduzindo as dificuldades económicas e analfabetismo.”
Depois de muita insistência da nossa parte, a FoA revelou alguns dados de uma suposta Ficha Técnica (informação basilar em qual quer sondagem) que, aliás, deveria acompanhar a própria divulgação da informação.
Ficamos assim a saber que na “sondagem” participaram 497 pessoas, 8% eram mulheres e 92% homens, que a votação ocorreu via Facebook.
Ao contrário de qualquer sondagem propriamente dita, não há elementos sobre a origem geográfica dos votantes (país, cidade, província etc.), margem de erro da sondagem, como foram validadas as respostas, garantias de a mesma pessoa não votar as vezes que lhe apeteceu, universo etário dos votantes etc. etc. etc..
Recordamos que uma Sondagem é algo que deve ser sério. A FoA chamou a um mísero inquérito algo que não obedeceu às mais basilares regras, como sejam – entre outros dados – o universo etário dos participantes, residência, número total de entrevistas feitas e validadas, previsão de erro da amostra etc..
As sondagens são um tipo particular de inquérito, um método universalmente aceite para estudar cientificamente a opinião pública.
Aquilo que se faz numa sondagem ou estudo de opinião é medir opiniões, atitudes ou comportamentos através de questionários a um grupo que se pretende representativo da população que se quer, com o objectivo de tirar conclusões que se aplicam a toda a população.
Este tipo de investigação caracteriza-se por dois aspectos fundamentais: As pessoas entrevistadas são seleccionadas de forma aleatória de entre os membros da população que se pretende estudar, isto é, são utilizadas amostras probabilísticas de uma população-alvo e as perguntas feitas aos entrevistados estão organizadas num questionário. A qualidade dos resultados obtidos com uma sondagem depende essencialmente, portanto, da qualidade da amostra e do questionário usados.
As fontes de erro de uma sondagem estão identificadas e o trabalho dos investigadores consiste em minorar e controlar os seus efeitos. Por sua vez, é importante que os cidadãos conheçam os factores que influenciam a qualidade destes estudos e saibam como interpretar os seus resultados quando são apresentados nos relatórios ou nas fichas técnicas divulgadas.
As sondagens são um elemento importante nas campanhas eleitorais. O seu estatuto de estudo científico, aliado à simplicidade dos resultados e à ampla divulgação que obtêm nos meios de comunicação social tem um forte impacto nas candidaturas e nos eleitores.
Sendo as eleições um dos pilares dos regimes democráticos é importante que um instrumento com tal poder de influência seja conhecido dos cidadãos, sob pena de poder ser usado para instrumentalizar a sua vontade e desvirtuar um processo essencial para a estabilidade da vida política.